terça-feira, 5 de julho de 2011

Notas sobre Belgrado

Da primeira vez que deixei Belgrado, há 7 anos, pensei: "Gostava muito de voltar aqui, mas é possível que isso nunca aconteça." No domingo de madrugada, apanhei um táxi para o aeroporto e pensei: "Gostava muito de voltar aqui, mas é possível que isso nunca aconteça." De modo que tenho esperança.

O meu corpo lembrava-se de Belgrado. Na recepção do hotel pedi um mapa da cidade, mas não cheguei a usá-lo. As minhas pernas sabiam o caminho e os meus olhos sabiam para onde olhar. Sem dificuldade encontrei todos os lugares por onde tinha passado há 7 anos.

No sábado li novamente O Mundo Silencioso de Diamantino. Estávamos no parque Kalemegdan, junto à fortaleza. A noite estava fria mas não chovia. Antes tinham passado o filme The Graduate e havia centenas de pessoas espalhadas pela relva. Quando o filme terminou e começaram as leituras, muita gente levantou-se porque a literatura é, de longe, menos popular do que o Dustin Hoffman. Mas ainda assim umas cem pessoas resistiram ao impulso de ir para casa e ficaram para ouvir escritores a ler contos em idomas incompreensíveis. Gosto muito dessas cerca de cem pessoas.

E agora Lisboa outra vez. Mas isso nunca foi uma coisa má.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Os dias de Kikinda

É muito bom estar de volta à Sérvia, claro. Mas é mais do que isso. Desta vez há literatura à mistura.

Por enquanto o Festival de Conto de Kikinda está em Kikinda. Nas últimas duas noites, cerca de trinta autores de quase vinte nacionalidades subiram a um palco no jardim da biblioteca municipal e leram os seus contos. Ao que parece, também aqui os novos escritores estão na moda. Quase todos os autores convidados do festival têm menos de 40 anos, apenas um ou dois romances publicados (a estrela da trupe, uma espécie de padrinho entre nós, é o escritor irlandês Bernard Maclaverty).

Cada autor lê o seu conto na sua língua; em simultâneo, atrás, numa parede, o texto é projectado na versão sérvia e também na versão inglesa, para que todos possam seguir o autor que lê. É muito impressionante como tudo se complementa: a leitura do texto em voz alta numa língua cujas palavras são para mim indecifráveis impõe a sonoridade e o ritmo à leitura que eu faço em silêncio em inglês.

Em mesas de café e bancos de jardim, 150 pessoas acompanham a literatura com cerveja e schnapps. E ao longo de duas horas, os autores sucedem-se no palco para ler histórias e na audiência o silêncio profundo é apenas interrompido pelos aplausos no final de cada leitura.

Ontem à noite li o conto O silencioso mundo de Diamantino, do meu livro HISTÓRIAS POSSÍVEIS.



Hoje, depois de almoço, seguimos para Belgrado e nas próximas duas noites as leituras vão repetir-se ali. E há uma ansiedade evidente entre todos: a experiência de Kikinda foi muito gratificante.

Nota final: só ontem à noite me apercebi que tinha saudades de comer um burek às três da manhã.